"Três da madrugada. Já não sei mais discernir o silêncio do barulho das cigarras.
Tudo está tão calmo, mas ao mesmo tempo tão agitado.
As palavras não saem, e já estou a quase cinco horas em frente à essa maldita tela.
Talvez se fosse um livro, seria mais fácil. Com a pena em mão e o tinteiro ao lado.
Mas não. É apenas uma tela, com um teclado e um maldito 'tec, tec' infinito de erros.
As palavras não saem, e minha bunda já está doendo. Malditas horas que, por sorte ou azar, demoram a passar.
As pessoas devem achar que ser escritor, ou pelo menos tentar ser um, deve ser uma mão na roda.
Isso é difícil! As palavras não saem, você não pode se mover, senão perde a concentração.
Há escritores que conseguem facilmente escrever o que querem. Mas o que eu quero é mais difícil.
É como se as palavras tivessem medo do assunto, e assim fugissem.
É frustrante como um assunto tão simples pode se tornar tão complicado.
O que eu quero escrever? Quero escrever sobre escrever.
Mas, para variar, não sei como... Então vou apenas no embalo desse 'tec, tec' enquanto as palavras se formam à minha frente.
Não releio linha alguma até parar de escrever. Se fizer isso eu perco o ritmo, a cadência dos 'tec, tec. Tec, tec, tec. Tec, tec. Tec.'
Consegue escutar? Não? Pois é, nem mais eu consigo... Triste não?"